quinta-feira, 1 de maio de 2014

Uma missão de 12 meses

“Pamonha” e “palerma” daqui, pimenta no lápis acolá, porém cafunes constantes naquele início de vida escolar. Há 10 anos o vô Wilson, ou “seu vilso” para os próximos, cumpria a sua missão. 

Fatos como a morte da Madre Teresa de Calcutá e princesa Diana, a estreia do South Park e das Chiquititas, de Titanic nas telonas, o lançamento de “Crazy”, do Aerosmith e o Gre-Nal dos 5 a 2, marcaram aquele ano de 1997. Fatos tão importantes para mim quanto os doze meses vividos com o meu avô naquele ano. Um 97 de aprendizado e doutrina absoluta – na amarra.

Era assim: todas as tardes, após aula com a professora Lígia, eu chegava em casa e lá tinha uma salada de frutas. Porém nem tudo era doce. No mesmo instante que eu pisava no então “lar improvisado”, segundo a minha mãe, além de saborear a sobremesa eu tinha que fazer os temas – sim, fazia os temas quando chegava da escola! Era ordem do vô vilso. E se fazia errado ele pegava a borracha e apagava tudo – isso me dava muita raiva e ainda está muito fresco na minha memória. Se mordia o lápis, ele colocava pimenta. 




Após a lição, minutos de Beavis & Butt-head na MTV seguido de desenhos na Net – gostava muito de ver o Zorro também. Jantava com ele e dormia cedo em meu primeiro quarto. Os finais de semanas era regados a Ruffles sabor churrasco e Pepsi. As brincadeiras eram Ferrorama, jogo de botão e bola – pois toda criança precisa de bola. Amava ser goleiro porque ele já tinha sido um também.

Eu era feliz, apesar dos berros seguidos e dos xingamentos cotidianos – nunca levantou a mão.

Em 2004 ele deixou três filhas e dois netos aqui pelo estado. De 2004 pra cá ele me deixou lembranças de um ano muito bem vivido na infância e que constantemente me vem à memória. Lembro dos cafunes na cabeça somados as Sete Belo, o um pila que ele me dava para comprar salgadinho e o amor de um vô com seu neto, que era comentado pelos vizinhos e parentes, tanto pelos gritos quanto pela babação de ovo dele enquanto me via imitá-lo debaixo da goleira.

De vez em quando vejo, sinto e converso com ele através dos sonhos. O que pra mim já é o suficiente, pois se o cara que manda lá em cima resolveu chamar ele é porque aqui em baixo a missão dele já estava executada. A missão dos 12 meses.