quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Há seis anos a indústria cinematográfica perdia uma joia rara


Eu me lembro muito bem daquela noite. Noite que o mal vestido do Zeca Camargo anunciou no Fantástico a morte do Heath Ledger, ator que a crítica e fãs do super-herói Batman caíam em peso, dizendo que “como um cowboy veado (ator interpretou um gay em O Segredo de Brokeback Mountain) poderia viver nas telonas um dos vilões mais maquiavélicos, insanos e cômicos das história em quadrinhos?”

Me lembro muito bem também que foi a primeira vez que vi o teaser do filme, que estrearia apenas em meados de junho – a película já estava pronta só no aguardo da data comercial. Me lembro que me choquei ao ver aquela aparência esdrúxula e borrada, totalmente ao contrário do perfeito Coringa interpretado pelo deus chamado Jack Nicholson, em Batman (1989).

Quando o apresentador disse na sua primeira frase que o ator tinha falecido na madrugada de segunda para terça por overdose acidental de medicamentos, não acreditei. Achei que era mais uma estória da carochinha e que o rapaz, de apenas 28 anos, já pai de uma linda menina, era um drogado. Me equivoquei por completo.

Lembro-me também que em abril, dois meses após sua morte, o cinema da cidade onde moro já expunha um cartaz digno de festival de Cannes e de tamanho superior a cinco metros de altura - sim, eu disse cinco. Achei o cartaz um tanto quanto chamativo e bonito. Bem feito. Comecei a me interessar mais de o porquê daquilo tudo e a cada semana que se passava eu estava mais ansioso para ver o longa.

Chegou junho. Chegou o dia da estreia na sala escura. Me lembro que fui com meu grande comparsa Jairo e que compramos a melhor pipoca já feita num shopping. O filme começou e logo de cara aquilo tudo. Cenas bem editadas, trilha absurda de Hans Zimmer, fotografia, e claro, a atuação inicial de Ledger, que já em sua primeira tomada mostrou o por quê daquela minha curiosidade. O porquê daquele auê todo. Bom, o resto nem preciso citar mais. Acredito que muitos tenham olhado aquela obra em 2008.

Hoje faz seis anos que um ator, que arrebentou a boca do balão e ganhou notoriedade em "10 Coisas Que Odeio Em Você", visibilidade em "O Patriota", bastante dinheiro em Coração de Cavalheiro, respeito na Academia com O "Segredo de Brokeback Mountain" e que, simplesmente teve uma das melhores quebras de paradigma e carisma em "O Cavaleiro das Trevas", morreu sem querer, bem como aqueles tiques de se lamber, ajeitar o cabelo e bater palmas enquanto interpretava o vilão Coringa. Um ator que mergulhou fundo em seu personagem obscuro e psicótico. Que se doou por completo em seu trabalho – esta foto mostra um pouco disso.

Ganhou Oscar póstumo em 2009 e diversas homenagens pelo mundo, porém uma estatueta de apenas 30 centímetros não vale nada perto de uma das atuações mais primorosas, arrepiantes e empolgantes da Sétima Arte. Sem dúvidas, naquela madrugada de terça-feira, a industria cinematográfica perdeu uma joia rara, que ainda lhe renderia frutos por muitos anos.

OBS: quando questionado sobre a morte de Heath, Jack Nicholson, que viveu já viveu o personagem e enriqueceu por isso, solta sem pudor e com deboche: “Eu avisei que era barra fazer o Coringa!”

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