terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Trocaria uma matéria por duas palavras

Sábado tive o prazer de pegar um táxi com o Cristóvão. Durante a viagem, que tinha como destino o centro de Porto Alegre, contei rapidamente que achei um celular sofisticado na última quinta-feira, numa festa na Cidade Baixa. Comentei também que o dono não teve a temeridade de me contatar e que quem fez a “árdua” tarefa foi o pai do guri. Ele me interrompeu:

- Sabe aquele taxista que achou os euros ano passado ali no Centro?
- Sim!
- Fui eu. Nem um muito obrigado recebi. Poderia estar com umas 15 frotas de táxi agora, gozando férias em Bruxelas com minha esposa. Sabe o que recebi de agradecimento?
- Não – pasmo.
- Deboche e matéria na Zero Hora.

Voltando para minha história. Na manhã de sexta, o pai do guri entrou em contato comigo às 07h da manhã – horas depois da festa em que seu filho estava. Perguntou meu nome, se iria devolver, onde eu trabalhava e morava. Respondi tudo pacienciosamente. O senhor, um tanto quanto alterado, exclamou do filho. Que ele era um irresponsável e tudo mais. Não disse nem que sim nem que não. Fique mudo, claro. Perguntou se ele poderia ir até meu local de trabalho e pegar o celular. Disse que sim e que estaria no aguardo dele até às 14h. Esperei. Ninguém apareceu. Peguei o aparelho e fui pra casa. Passou sexta e nada. Passou sábado e enfim um contato comigo foi feito à noite. Era o próprio. Era o dono do celular. Entrou em contato por aqui mesmo (Facebook). Perguntou de onde eu era. Eu disse que era de Canoas. Ele mostrou o primeiro sinal negativo.

- De Canoas? Bá, muito mão (risos)!
- Se quiser podes pegar o trem e eu te alcançar na minha estação – disse eu.
- Não, muita mão. Tu vem pra Porto hoje?
- Não, apenas na segunda-feira.
- Ah, beleza. Segunda falo contigo.

Passou o final de semana. Segunda, ontem, fui trabalhar, como de praxe - sou brasileiro e não desisto nunca. Pensei que algum contato seria feito comigo ainda pela parte da manhã. Pensei. Veio a tarde, veio o Cravo e a Rosa, veio a Sessão da Tarde. Nada. À noite convidei uma amiga para ver um filme, em Porto. Antes das luzes e meu celular serem desligados, decidi mandar uma mensagem para o menino do celular, pois afinal eu estava na sua cidade e imaginei que ele poderia ir buscar – já estava mais fácil pra ele. Mandei “Estou em Porto, no shopping Moinhos. Ficarei até às 21h.”

Imediatamente me respondeu no chat desta rede social. “Ok, vou ver com o pai!”. Assisti o filme e liguei o celular novamente. Tinha o seguinte inbox: “Cara, vou mandar um motoboy pegar no teu trabalho. Mais fácil!” Respondi com um “ok”.

Chegou terça (hoje). O motoboy apareceu no meu trabalho e pegou comigo. Não falou nada. Apenas perguntou meu nome e ergueu a mão. Eu disse o nome que meu pai deu para mim e alcancei o aparelho sem muito afeto – não esperava que o motoqueiro fizesse ou falasse algo. Ele é motoboy. Pago para ser ágil e eficiente.

Passou a tarde, passou O Cravo e a Rosa, passou a Sessão da Tarde. Entrou noite. Até agora nenhum sinal de resposta foi emitido. Nenhuma palavra positiva chegou até mim. Nenhum esforço chamado “muito obrigado” chegou até Canoas ou via celular.


Lembrei-me do taxista. Lembrei da matéria no jornal. É claro que não merecia se quer uma notinha no jornal mais fuleiro da região, porque afinal ser honesto é dever do ser humano. Uma obrigação. Não é qualidade e nem merece ser pautada. Mas confesso que trocaria tudo, mas tudo por um sorriso, um aperto de mão, uma frase de duas palavras, um muito obrigado afortunado deste rapaz, que deve estar em casa agora, assistindo BBB.

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